terça-feira, 23 de junho de 2009

os pleonasmos da viagem
O viajante sabe que o caminho se faz com engano, pois sabe que qualquer razão é falaciosa mesmo depois de redundâncias fora, portanto, segue viagem impreterivelmente.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

o viajante (antes de morrer) decide avisar os pretendentes a viajantes *1

O viajante sabe que a razão da viagem se deve ao coeficiente de atrito cinético ser menor que o coeficiente de atrito estático, e que para o coeficiente do primeiro seja constante a velocidade da viagem deve manter-se entre os 1cm/s e os diversos m/s. Sabe que a força do atrito está sempre na direcção contrária do movimento ou tendência do movimento. Sabe também que ambos os coeficientes dependem da natureza das superfícies em contacto, e são independentes da área de contacto, portanto é necessário evitar ter frio sobre frio, ser de ferro sobre ferro e juntas humanas.

terça-feira, 16 de junho de 2009

como de o (substantivo) a a (adjectivo) vai um passo (de saudade):
Incontornavelmente a saudade faz com que o viajante, se vire.
As pedras que a sua mãe cautelosamente lhe aconselhou como substituto dos bocados de pão outrora utilizados por incautos jovens nos bosques, marcam o caminho ainda fresco dos seus passos. Segue-as, até que pára. Aí, a paragem ganha forma, corpo, espaço e nome; O s.f. meio de. A semelhança torna-se óbvia, tanto para trás de onde veio ou para trás para onde vai, é um retrocesso; adj. tormenta para qualquer individuo que partiu de.
O viajante encontra-se então no ponto de balanço, de não retorno, a meio caminho.

só lhe resta morrer.

domingo, 14 de junho de 2009

...



When I see me in your heart
I just want to go blind
When I build coffin worlds with words
I just want a place to hide when old guests meet new regrets
My daylight fades to grey when our days bring guilt and shame
My heart turns black
These are my tombs painted black and blue
These are my tombs painted just for you
Goodnight, goodnight
Dear goodbye
Black rose, be my light in the darkest of days
Be my heart in the darkest of nights
Be my heart

converge - grim heart/black rose

quinta-feira, 11 de junho de 2009

um bom perfil

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Uma bala de mel que penetrou o peito da estátua. Que furou pelo pescoço e inundou o crânio. Que adoçou os lábios. Que contaminou os olhos.

A loucura é a máxima pretensão cardíaca. Induzi-la por letras é um artefacto muito raro. Requer mãos que sejam simultaneamente patas, barbatanas, periscópios em crateras de vulcão, aquários intactos nos escombros de um terramoto.

A loucura não é uma conclusão de sofá, um apontamento da inteligência.

Todos os equívocos nascem da distinção entre poema e poeta. Como entre poema e leitor. Como entre poeta e leitor. Acordar é abrir um livro de poemas. Adormecer é abrir um outro livro de poemas.

Ervas que se queimam por contacto com o corpo, vapor de suor num cachimbo. A poesia é o único tóxico que negoceia vida.

Tudo o que pode ser visto, escutado, inspirado, provado, tocado, forma a placenta cinco vezes real que treme. Só há, portanto, um alimento: a imanência. O acto sexual é a abertura de um poço de líquido amniótico.

Creio que o amor está sujeito ao Princípio da Incerteza de Heisenberg: quanto mais sabemos da sua velocidade, menos sabemos da sua posição, e vice-versa. O amor é, por isso, todas as graduações de velocidade e posição.

Reforço o que disse anteriormente: se um poema não tomou de assalto um homem, das duas uma: ou não era poema, ou não era um homem. Resolver em sede de tribunal. Ou na rua.

O único veneno é a saúde de ferro, sem uma febrezinha sequer para compor o coração.

Vasco Gato

terça-feira, 2 de junho de 2009



o possível auto-retrato 1

segunda-feira, 1 de junho de 2009

o caminho já se fazia longo
e o caminhante estava carregado de vincos.
decidiu então; na próxima manhã viajar de comboio

a manhã chegou
e o comboio chegou-lhe colado.
aí o caminhante percebeu,
que para viajar de comboio;
só era válido depois de obliterado.